Terapia de grupo: apoio, pertença e crescimento coletivo

Vivemos numa era marcada pela hiperconectividade, em que a Internet e as redes sociais atravessam todas as esferas da vida, permitindo-nos estar ligados ininterruptamente, levando para dentro de casa, e até para a cama, o trabalho, os conflitos, as amizades, o consumo e o stresse, ao mesmo tempo que nos impõem a urgência de partilhar, reagir e sermos validados. Contudo, pensadores contemporâneos alertam que, paradoxalmente, nunca estivemos tão sozinhos e cercados de incertezas: diante de uma imensidão de informação, seguimos a tatear caminhos para o sentido da vida e da verdade, vivendo a condição descrita por Bauman (2000) em Modernidade Líquida, na metáfora do peregrino, sempre rodeado de sinais e estímulos, mas carente de identidade e de significado.

O individualismo e o egocentrismo vêm agravar este cenário, com o enfraquecimento dos laços comunitários e familiares. O sociólogo Richard Sennett, na sua obra A Corrosão do Caráter (1998), refere que o individualismo crescente produz um efeito corrosivo na confiança e na cooperação social, dificultando o sentimento de pertença e de segurança emocional.

A terapia de grupo surge como uma alternativa terapêutica poderosa, pois oferece um espaço social resguardado para o indivíduo que vive essa liquidez existencial. Promove o sentimento de pertença e de acolhimento, capaz de contrabalançar a solidão e o vazio afetivo, favorecendo a construção coletiva de sentido. É um espaço no qual a pessoa percebe que não é a única a passar pelo desafio ou problema que a aflige e que não precisa de o enfrentar sozinha, pois encontra ali compreensão e aprendizagens valiosas através da partilha de experiências de outras pessoas que já superaram situações semelhantes. Com o desenvolvimento do processo, há ainda a perceção de que não está apenas a receber apoio, mas também a tornar-se uma fonte de ajuda para outros. É neste momento que o grupo terapêutico revela uma das suas mais ricas contribuições.

A terapia de grupo é uma forma de psicoterapia que reúne um ou mais terapeutas com várias pessoas em simultâneo, podendo ser utilizada isoladamente ou integrada num plano de tratamento mais abrangente. Proporciona um ambiente seguro e confidencial onde os participantes partilham experiências e emoções, restabelecendo laços e promovendo empatia, cooperação e apoio mútuo, essenciais perante os desafios da modernidade líquida e do individualismo crescente. Pode assumir diferentes formatos, como o cognitivo-comportamental, centrado na identificação e mudança de padrões de pensamento, emoções e comportamentos disfuncionais, ou o psicoeducacional, que visa educar sobre perturbações mentais ou dificuldades de desenvolvimento, reforçando competências sociais e a resiliência afetiva.

As atividades realizadas no grupo terapêutico dependem dos objetivos de cada grupo e do estilo do terapeuta, que pode trabalhar com temas espontâneos trazidos pelos participantes ou seguir um plano estruturado de sessões. Normalmente as sessões podem incluir:

  • Dinâmicas de grupo ou atividades para “quebrar o gelo”, que favorecem a integração dos participantes e facilitam o processo de imersão no ambiente do grupo.
  • Revisão do que foi aprendido nos encontros passados e oportunidade de agradecer ao apoio recebido pelos colegas de grupo.
  • Atividades de partilha, nas quais os membros do grupo fazem perguntas reciprocamente e trocam experiências.
  • Atividades expressivas, através da arte ou escrita, recorrendo a materiais diversos, para explorar experiências e emoções relacionadas a esses eventos.
  • Visualização de objetivos a serem alcançados e elaboração de um plano de ação para a situação-problema pontual, ou para o projeto de vida.

A terapia de grupo não é indicada apenas para pessoas com perturbações mentais, podendo também ser muito útil em processos de crescimento pessoal e de fortalecimento das relações interpessoais. Entre os benefícios mais comuns estão:

  • Controlo da raiva
  • Gestão da dor crónica
  • Redução do stress
  • Controlo do peso
  • Adaptação a novos contextos académicos ou profissionais
  • Processos de perda, luto ou separação

Paralelamente, inúmeros estudos demonstram a eficácia desta modalidade no tratamento de diversas condições clínicas, como perturbação de défice de atenção e hiperatividade, depressão, perturbações alimentares, perturbação de ansiedade generalizada, perturbação de pânico, fobias, perturbação de stress pós-traumático e perturbação por uso de substâncias.

Entre os seus principais benefícios, destaco aqui quatro que considero centrais:

  1. Apoio, segurança e incentivo: as pessoas que participam no grupo percebem que outras enfrentam situações semelhantes, o que as ajuda a sentirem-se menos sozinhas. O ambiente permite ainda praticar comportamentos e ações dentro da segurança e proteção do grupo.
  2. Competências sociais: os participantes podem aprender novas formas de comunicação, lidar com conflitos e estabelecer relações mais saudáveis. Os membros do grupo funcionam como modelos uns para os outros, com a mediação do terapeuta.
  3. Infundir esperança: o grupo integra membros em diferentes fases do processo terapêutico ou com distintos níveis de maturidade emocional. Ver pessoas que já lidam com a doença, se encontram em recuperação ou conseguem manter o equilíbrio emocional perante adversidades transmite esperança àqueles que estão no início do processo ou que ainda não conseguem alcançar o mesmo equilíbrio.
  4. Acessibilidade: a terapia de grupo tende a ser mais acessível, uma vez que o terapeuta, em vez de se concentrar num único cliente de cada vez, pode acompanhar várias pessoas em simultâneo, reduzindo assim o custo para todos os participantes.

Apesar destes benefícios, a terapia de grupo não é a solução mais adequada para todas as pessoas. Alguém que esteja a passar uma fase mais agravada de uma doença mental pode ter alguma dificuldade com a partilha em grupo. Pessoas que estão a viver stress intenso, crises depressivas agudas ou pensamentos suicidas, também devem considerar outras modalidades terapêuticas. É natural que pessoas com ansiedade social ou fobias sintam algum desconforto no início ao estarem com desconhecidos, ou que surjam dúvidas quanto à segurança e à confidencialidade do grupo. No entanto, em todos os grupos é estabelecido um contrato grupal de confidencialidade, que ajuda a criar um ambiente protegido, de respeito e confiança mútua.

É importante lembrar que o ambiente do grupo terapêutico, bem como a seleção dos seus membros, é cuidadosamente preparado para promover segurança, respeito e confiança. O terapeuta gere o grupo, os diálogos e as interações, para que todos se sintam ouvidos e valorizados, moldando o processo para a mudança positiva dos participantes, geralmente com leveza e descontração.

No Espaço PsicoVida, em Coimbra, também trabalhamos com terapia de grupo. Se tens interesse ou curiosidade sobre esta abordagem, para ti ou para alguém que amas, podes demonstrar o teu interesse através do formulário de marcação no nosso website. Antes de iniciares, é sempre realizada uma conversa individual com o psicólogo para esclarecimentos e preparação. Assim que tivermos o número mínimo de participantes, os interessados serão contactados para darmos início ao grupo.

Atualmente, estamos a realizar triagem para o grupo terapêutico VOAR, focado na adaptação académica à universidade, que acontece todos os anos no início do ano letivo, mas no Espaço PsicoVida também promovemos grupos sobre outras temáticas, como autoestima, ansiedade, perdas ou parentalidade.

Venha experimentar a riqueza de crescer com e pelo grupo!

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