Autocuidado: um Ato de Amor-próprio
Atualmente, fala-se cada vez mais da importância de cuidarmos de nós e dos benefícios que isso traz para a nossa saúde mental, física e para os nossos relacionamentos. Mas como conseguimos fazê-lo quando o nosso ritmo de vida é tão acelerado? Será egoísmo reservar tempo para nós?
O que significa realmente cuidarmos de nós?
Autocuidado significa cuidar intencionalmente do nosso bem-estar, respeitando as nossas necessidades, interesses e emoções. Pode envolver atividades simples que nos fazem sentir bem connosco, com os outros e com a vida.
Cada um de nós tem o seu próprio caminho, por isso as práticas de autocuidado não são iguais para todos. Podem mudar ao longo da vida e não se limitam aos cuidados e atenção com o corpo, a ter uma alimentação saudável ou a praticar atividades de lazer. Implica também saber respeitar o nosso tempo, reconhecer e acolher as nossas emoções sem julgamento, reconhecer os nossos limites, saber dizer “não” sem culpa e afirmar o nosso valor, protegendo o nosso espaço pessoal.
Vamos esquecer os mitos! O autocuidado não é…
- uma recompensa por termos trabalhado muito;
- perda de tempo;
- preciso gastar dinheiro;
- só para “quando der”;
- uma receita universal, que sirva de forma igual para todos.
Dar prioridade ao nosso bem-estar não significa que estamos a ser egoístas ou a negligenciar os outros. Estamos, sim, a reconhecer que só podemos ser e dar o nosso melhor aos outros quando cuidamos de nós próprios. Os nossos relacionamentos tornam-se mais autênticos e fortes quando estamos inteiros e em paz connosco e com as nossas escolhas.
As várias faces do autocuidado
- Autocuidado físico implica cuidar do nosso corpo de forma saudável e equilibrada. Alguns exemplos são: ter uma alimentação saudável, praticar exercício físico com regularidade (como caminhar, correr, nadar, fazer ioga, …), cuidar da higiene pessoal, dormir bem (entre 7 a 9 horas), fazer pausas para descansar e respirar.
- Autocuidado emocional envolve práticas que ajudem a fortalecer a nossa mente e a lidar com as nossas emoções e sentimentos de forma saudável. Por exemplo, descobrir hobbies e atividades relaxantes (como ler, pintar, ouvir música, …), recorrer à psicoterapia, desabafar com alguém de confiança, escrever um diário ou praticar a autocompaixão (ou seja, acolher e expressar as nossas emoções em momentos difíceis, sem as julgar ou criticar).
- Autocuidado social inclui construir e manter relacionamentos saudáveis com os outros através da partilha de momentos e experiências, estabelecer limites claros nas relações, conviver com amigos e familiares, fazer voluntariado ou participar em atividades de grupo.
- Autocuidado espiritual envolve estabelecer uma conexão mais profunda connosco mesmos e com o mundo que nos rodeia. Para algumas pessoas isso pode ser feito através da prática de meditação, da oração, passar tempo na natureza ou refletir sobre os nossos valores e propósito da vida.
- Autocuidado profissional é uma área da nossa vida onde é importante adotarmos práticas saudáveis que nos permitam ter uma melhor relação com o nosso trabalho. Por exemplo, estabelecer limites de horário no trabalho, fazer pausas regulares, fazer algo de que nos dê sentido, respeitar a necessidade de ter férias e dias de folga, assim como estabelecer limites entre a vida pessoal e profissional.
O que ganhamos quando escolhemos cuidar de nós?
Sabemos que a mente e corpo estão profundamente ligados e que quando cuidamos de um, isso impacta de forma positiva no outro. Por exemplo, dedicar tempo ao autocuidado emocional ajuda a reduzir o stress e a ansiedade, e melhora a nossa capacidade de concentração e a produtividade. Para além disso, fortalece a nossa autoestima, quando reconhecemos que “eu mereço cuidar de mim”. Demonstra que nos valorizamos e que confiamos nas nossas capacidades, o que nos ajuda a tomar melhores decisões para o nosso bem-estar.
Com o tempo, o autocuidado também traz outros benefícios: fortalece o sistema imunitário e previne doenças, reduz o risco de desenvolver problemas crónicos, melhora a qualidade do sono, aumenta a nossa resiliência emocional (ou seja, melhora a nossa capacidade para lidar com situações desafiantes), melhora os nossos relacionamentos, conseguimos estabelecer ligações mais significativas, e permite-nos estar mais preparados para cuidar dos outros, sem que isso se torne emocionalmente desgastante.
O autocuidado no dia-a-dia: por onde começar?
- O primeiro passo é começar por conhecermo-nos a nós mesmos, identificando quais são as nossas necessidades, interesses e limites. Dica: Fazer uma lista com as atividades que tragam bem-estar e relaxamento.
- Começar com pequenos passos e escolher pequenas ações que se encaixem na nossa rotina atual. Dica: Pode ser uma caminhada curta, fazer uma pausa de 5 minutos, ir ao cinema ou ouvir a nossa música preferida.
- Tentar praticar o autocuidado nas suas diferentes áreas: físico, emocional, social, espiritual e profissional.
- Praticar a autocompaixão,ao sermos gentis connosco mesmos, sem tentar alcançar a perfeição. Dica: Tentar valorizar todos os progressos, por mais pequenos que pareçam, e reconhecer o esforço neste processo.
- Assumir um autocompromisso com o nosso bem-estar. Dica: Marcar numa agenda o tempo que queremos reservar para os momentos de autocuidado (podem ser 5, 10 ou 20 minutos).
- Estar no momento presente. Dica: Tentar desconectar dos ecrãs por alguns momentos (telemóvel, tablet, computador, televisão) e focar no que estamos a fazer.
- Pedir ajuda a um psicólogo/a. Se sentirmos que o estado de ansiedade e inquietação são excessivos e persistentes, se nos sentirmos completamente sobrecarregados e incapazes de funcionar e fazer a nossa rotina diária, um psicólogo/a pode ajudar.
Pequenos passos constroem grandes mudanças!
O autocuidado não nos vai impedir de viver momentos de stresse e ansiedade, mas vai ajudar-nos a lidar com eles. Vai haver fases em que nos será mais difícil dar prioridade ao nosso bem-estar. É precisamente nos momentos em que nos sentimos mais preocupados, stressados ou sobrecarregados que mais precisamos de olhar por nós. O autocuidado pode ajudar-nos a gerir e a equilibrar melhor as exigências dessas fases mais desafiantes. Negligenciar o autocuidado é negligenciar o nosso bem-estar, o que pode levar a um estado de esgotamento físico e emocional.
É normal sentir que não temos tempo ou que nem sabemos por onde começar. Não devemos, acima de tudo, sentir pressão para seguir uma rotina rígida. Podemos, todos os dias, olhar para a nossa lista e tentar realizar nem que seja apenas um dos pontos dessa lista, focando num aspeto de cada vez.
Se dermos pequenos passos consistentes em vez de fazermos grandes mudanças repentinas, vamos construindo de forma gradual uma rotina de autocuidado. O importante é manter um compromisso connosco mesmos. Às vezes, parar por 10 minutos já faz a diferença; outras vezes, podemos precisar de um dia inteiro. E está tudo bem!
Experimente isto: No final de cada dia, pare por um instante e pergunte: “Hoje, cuidei de mim?”.
Sem pressa e sem culpa, comece hoje a cuidar de si!
Nota: Deixo aqui uma checklist desenvolvida pela Ordem dos Psicólogos Portugueses que nos ajuda a refletir sobre os nossos comportamentos de autocuidado.
https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/checklist_comportamentos_autocuidado.pdf